sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Catei a expressão "Patrimônios Inúteis da Humanidade" de um poema de autoria de Manoel de Barros, sobre um catador de pregos enferrujados que não exerciam mais a função de pregar. Dei a ela a função de título para esta série de três fotos reunidas por Edgard. Num mundo extremamente funcional e mecanicista, em que pessoas e objetos ocupam lugares pré-determinados e específicos, sendo descartados com rapidez caso deixem de interessar ao jogo financeiro, qual a substância das coisas abandonadas na natureza? O que resta, quando destituímos das coisas a sua função? Somos capazes de amar as coisas pelo que são, e não pela sua função? Uma rã que pula sobre uma máquina agrícola enferrujada e se mimetiza, está rimando com ela, não procurando seu manual de instruções. Quando a ferrugem vermelha da máquina contrasta com o verde da grama no chão, outro tipo de antagonismo poético desinteressado é criado. Somos capazes de apreciar uma imagem sem buscar compreendê-la, classificá-la ou separá-la da nossa experiência, simplesmente pelo encantamento inútil que ela produz em nós? Meu convite está feito. Abro a obra. Venha, entre, por nenhuma, todas ou qualquer uma das portas.

Marília Palmeira

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